O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar nesta segunda-feira a gestão do atual presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, à frente da autoridade financeira. Segundo Lula, "não é correto" governar o país com um presidente do BC indicado por outro presidente.
Em entrevista à rádio Princesa, da Bahia, Lula afirmou que o correto é que o atual presidente da República indique quem vai comandar a autoridade finaceira durante o seu mandato.
— Eu estou há dois anos governando com o presidente do Banco Central indicado pelo Bolsonaro.Ou seja, não é correto isso. O correto é que o presidente entre e indique o presidente do BC. Se não der certo, ele tira. Como o Fernando Henrique tirou três.
A lei define que o presidente do Banco Central terá mandato de quatro anos não coincidente com o do presidente da República.
Nesta segunda-feira, Lula também voltou a criticar a decisão do Banco Central de manter a taxa básica de juros (Selic), em 10,5% ao ano e classificou a medida como "exagerada".
— Quem quer o banco central autônomo é o mercado. Eu tive um Banco Central independente, o Meirelles ficou 8 anos no Banco Central no meu governo, sem que o presidente se metesse. O que você não pode é ter um Banco Central que nao está combinando com o que é o desejo da população. Não precisamos ter política de juros alto nesse momento. A taxa selic de 10,5% está exagerada. A inflação está controlada.
Em sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) em 10,50% ao ano, após sete cortes consecutivos iniciados em agosto do ano passado, quando a taxa estava em 13,75%. A decisão interrompe o ciclo de queda a contragosto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Nas últimas semanas, Lula visitou São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Ceará, Maranhão e Piauí. Ainda nesta semana, a previsão é que o presidente passe por Pernambuco e Goiás.
Em duas semanas, o petista concedeu sete entrevistas a mídias de diferentes estados. As conversas foram marcadas por críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e a taxa básica de juros em 10,5% ao ano.
Desvinculação do salário mínimo
Na entrevista, Lula também afirmou que não desvinculará benefícios do salário mínimo. Segundo o presidente, não se deve fazer reajuste "em cima do mínimo".
— Eu não faço isso porque não é correto do ponto de vista econômico, político e humanitário tentar jogar a culpa de qualquer ajuste que você quer fazer em cima do mínimo. O mínimo é aquilo que está estabelecido por lei (...) para que a gente garanta ao trabalhador aquilo que é necessário para comer (...) Primeiro temos a obrigação de recolocar a inflação. Depois nós decidimos que quando a economia cresce, é preciso que o resultado desse crescimento seja distribuído com o povo — afirmou o presidente.
Em entrevista à Rádio Itatiaia na semana passada, o presidente também afirmou que o governo trabalha em um 'pente-fino' de cadastros de benefícios para reduzir os gastos, de modo a excluir quem está recebendo o benefício, mas não tem o direito.
Conforme O GLOBO mostrou, o governo prevê economizar entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões com a revisão de cadastros de benefícios no ano que vem. Os recursos são necessários para alcançar a meta fiscal de 2025, que prevê resultado zero, e já devem constar do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), a ser enviado ao Congresso até 31 de agosto.