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Por , Em AFP — Caracas

Não foi a primeira escolha, nem a segunda, mas no final o veterano e astuto Manuel Rosales, mais pragmático e negociador do que outros líderes da oposição vetados pelo governo, será o principal rival do presidente Nicolás Maduro nas eleições de 28 de julho na Venezuela. Em uma coletiva a jornalistas após o anúncio, ele convocou a população venezuelana a participar do processo eleitoral. Mais cedo, em outro evento, a principal líder opositora, María Corina Machado, impedida de concorrer, falou em aprender com as "traições" e disse que o regime escolheu seus candidatos.

— Para a Venezuela, temos que votar e é por isso que estou aqui, porque vou anunciar à Venezuela e ao mundo que vou liderar a maior rebelião de votos que já existiu na História — disse Rosales na sede do partido Um Novo Tempo (UNT) em Caracas, por volta do meio dia. — Houve muitos obstáculos, dificuldades nesse caminho tortuoso, mas não há outra alternativa, é somente através da via eleitoral, do poder que cada venezuelano tem de votar que podemos mudar isso.

A nomeação do governador do estado de Zulia (na fronteira com a Colômbia), rico em petróleo, ocorreu no último minuto, de forma dramática, depois que a principal aliança de oposição alegou ter sido impedida de registrar sua candidata. Corina Yoris, plano B da oposição, havia sido indicada pela Plataforma Unitária como substituta de María Corina, favorita nas pesquisas, na última sexta-feira.

O partido de Rosales, Um Novo Tempo (UNT), no entanto, conseguiu inscrever o candidato na noite de segunda-feira. Alguns especulam que o registrou aconteceu diretamente no Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo chavismo, e não pela internet.

"Por circunstâncias ainda não explicadas, as forças de oposição estavam a caminho de ficar de fora da corrida eleitoral e algo que temos sido claros e firmes é que a abstenção não é uma opção", justificou em nota, o partido. "Como um partido comprometido com a via eleitoral, mesmo nas piores condições, tomamos uma decisão corajosa, histórica e responsável."

Rosales foi candidato à presidência em 2006, quando concorreu contra o falecido ex-presidente Hugo Chávez, morto em 2013. Ele acabou derrotado por milhões de votos.

"A partir deste momento, estamos nos preparando para conciliar a alternativa democrática para sairmos o mais unidos possível para percorrer as ruas e cidades da Venezuela. Rosales, fundador do nosso partido, tem sido um homem de diálogo que promove a união de todos. Em 2021, ele reuniu a oposição em Zulia e, juntos, derrotamos de forma esmagadora o partido governista", lembrou a UNT sobre a trajetória de Rosales.

A aprovação de seu nome pela principal líder opositora — inabilitada para ocupar cargos públicos por 15 anos — era crucial, já que María Corina conquistou mais de 90% dos votos nas primárias em outubro do ano passado, muito à frente de seus rivais. Rosales não participou do processo. Na entrevista desta terça, no entanto, ela se recusou a opinar sobre a nomeação.

— Minha candidata é Corina Yoris — disse María Corina, ponderando: — Jamais os abandonarei. Essa luta continua. O regime mais uma vez se equivocou. A verdadeira oposição está mais unida do que nunca. A comunidade internacional já não tem desculpas. Isso é muito grotesco.

Em seu discurso, Rosales negou que substituiria qualquer candidatura.

— Não venho substituir ninguém, venho de braços abertos para reconstruir a Venezuela— disse o governador que, no início de março, garantiu em uma entrevista à Unión Radio que a candidata unitária era María Corina Machado. — Tive que decidir entre deixar o campo apenas para Maduro e me abster ou dar uma chance à Venezuela [depois que foi impossível para Yoris concorrer]. Tenho certeza de que tenho o apoio dos venezuelanos. Cada partido fará seus anúncios e definirá sua posição, não posso falar pelos outros.

De governador ao exílio

Rosales é considerado por analistas um candidato "mais viável" para o governo, que está apostando em sua continuidade após um quarto de século no poder. Dentro da oposição, é visto como uma figura divisiva, especialmente nos últimos meses, devido aos contatos com Maduro desde que reassumiu o cargo de governador.

De fato, María Corina sempre manteve distância até uma primeira reunião, na semana passada , para delinear a unidade. No encontro, a UNT manteve-se firme na opção esboçada pela líder da oposição, de indicar sua própria substituta.

— Ele demonstrou ser um homem muito pragmático, que sabe como se adaptar às circunstâncias e nunca reluta em negociar — disse à AFP a analista política María Alexandra Semprún.

Rosales concorreu contra o falecido ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013) na eleição presidencial de dezembro de 2006. Ele obteve 4,2 milhões de votos, três milhões a menos do que o governante socialista, que vivia então uma onda gigante de popularidade.

Hoje, como naquela época, Rosales espera reunir a maioria da oposição fragmentada em torno de sua candidatura, embora desta vez a liga seja María Corina, líder incontestável do antichavismo, mas impedida de enfrentar Maduro.

O nome de Rosales é uma instituição em Zulia, um feudo petrolífero e o estado mais populoso do país. Chávez ironicamente se referia a ele como "o filósofo de Zulia", fazendo alusão aos deslizes de Rosales em seus discursos.

O político retornou ao cargo de governador nas eleições de 2021, quando a oposição encerrou uma estratégia fracassada de dois anos de boicote eleitoral. Rosales então derrotou o candidato pró-governo Omar Prieto, que tentava a reeleição.

Ele foi governador de 2000 a 2008 e prefeito da capital do estado, Maracaibo, a segunda maior cidade do país, de 1996 a 2000 e depois de 2008 a 2009, quando foi para o exílio sob a acusação de enriquecimento ilícito. A ação judicial ocorreu após ameaças de Chávez de prendê-lo e acabar com sua carreira política, alegando que o líder da oposição estaria conspirando contra ele. Sua liderança foi assumida por outros atores, que também acabaram afastados, seja no exílio seja por inabilitações do governo.

Depois de seis anos de exílio no Peru, e longe do confronto com o chavismo, Rosales foi preso ao retornar à Venezuela em outubro de 2015. Dois anos depois, uma desqualificação política contra ele por corrupção foi encerrada, permitindo que ele voltasse às urnas. (Com agências internacionais)

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