Livros
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Por Bolívar Torres — Rio de Janeiro

Uma velha tradição pode apontar o futuro da indústria do livro. Livreiros, estúdios de design e editoras independentes estão unindo seus conhecimentos em diferentes pontos da cadeia para otimizar a produção e evitar encalhe de estoque. As parcerias deram origem a selos que exploram novos conceitos de projetos editoriais, desde a fabricação até a circulação. Os casos mais recentes são o do Janela + mapa lab, lançado pela Janela Livraria e pela editora mapa lab em novembro passado, e o do recém-criado Livraria Gráfica, uma colaboração entre a editora Lote 42, a banca Tatuí e o estúdio de design gráfico Casa Rex.

Não é de hoje que livrarias se transformam em editoras — e vice-versa. No Rio, um exemplo emblemático é o da extinta São José. Após virar ponto de encontro de figuras como Carlos Drummond de Andrade, nos anos 1940, a loja do Centro criou um selo homônimo para títulos que tivessem o espírito de sua clientela, ou fossem escritos por ela (como o “Itinerário de Pasárgada”, do seu habitué Manuel Bandeira).

‘Slow publishing’

Nos tempos atuais, porém, as iniciativas incorporam ideias do chamado slow publishing, modelo que visa a um ritmo de publicação mais sustentável. Lançada na última quarta-feira, a Livraria Gráfica, por exemplo, aposta todas as fichas nessa “doideira”, como define o editor João Varella (da Lote 42). O projeto tem um quê de provocação. Seu objetivo é trazer uma reflexão sobre a cadeia do livro, cujo “desgaste do monolítico processo usual cresce a cada dia”.

A nova editora paulistana vai produzir um livro por vez, que ficará exposto por um período a ser determinado na Banca Tatuí (que pertence à própria Lote 42). A tiragem será definida pelas encomendas, produzindo somente o que já estiver previamente vendido. Após o primeiro título do selo, “Deus Deus”, virão outras publicações com propostas diferentes.

— Ao aproximar as diversas etapas do processo produtivo do livro, enxergamos inúmeras possibilidades de inovação, do conteúdo à circulação. Antes, não havia distinção entre editor, impressor e livreiro — diz Varella.

 Capa do livro "Deus deus", editado pela Livraria Gráfica, selo que nasceu de uma parceria entre a Banca Tatuí e a Casa Rex — Foto: Divulgação
Capa do livro "Deus deus", editado pela Livraria Gráfica, selo que nasceu de uma parceria entre a Banca Tatuí e a Casa Rex — Foto: Divulgação

Fundadoras da carioca Janela + map lab, Martha Ribas, Ana Paula Costa, Camila Perlingeiro e Leticia Bosisio planejam lançamentos pontuais e criteriosos, sempre se relacionando com as demandas dos frequentadores da Janela, no bairro do Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio.

— A livraria é construção de comunidade, muito mais do que um ponto de venda de livros — diz Martha Ribas, que é cofundadora tanto da livraria Janela, em 2020, quanto da mapa lab, em 2019 . — Lançar títulos que dialogam com essa comunidade, que faz um trabalho permanente de divulgação do livro e do espaço, é um desdobramento natural. Do ponto de vista econômico, o negócio só tem a ganhar com a vivência diária com leitores e autores.

Seguindo o critério da desaceleração, a editora-livraria carioca publicou três livros desde novembro: “Caderno de costuras”, de Bianca Ramoneda; “Não há nada”, de Rodrigo Batista; e uma reedição de “Este é um livro sobre o amor”, de Paula Gicovate.

— Editar livros não é o negócio principal da livraria, faz parte de um modelo híbrido — explica Martha. — Com isso, não uma exigência de crescimento acelerado. Há um desejo do artesanal.

Maior lucratividade

Já a a porto-alegrense Taverna, de André Gunther e Ederson Lopes, é um exemplo do desdobramento das livrarias: começou em 2014 no e-commerce, migrou em 2016 para uma loja e, em 2017, abriu o seu próprio selo. Mas, diferentemente da Livraria Gráfica, ela assumiu a tarefa sozinha, sem recorrer a parcerias com editoras.

— Ao encurtar a cadeia de distribuição do livro, a livraria/editora pode realizar o evento de lançamento e sessão de autógrafos no seu próprio espaço, por exemplo, ficando com uma margem de lucro muito maior do que se recorresse a um espaço parceiro — avalia Ederson Lopes. — A venda direta dos livros da editora dentro da livraria também representa uma lucratividade maior. Mas isso não significa que, no caso da Taverna, a gente não faça a distribuição dos livros através de distribuidoras e livrarias.

André Günther e Éderson Lopes, donos da Taverna — Foto: Divulgação
André Günther e Éderson Lopes, donos da Taverna — Foto: Divulgação

A curitibana Arte e Letra, de Thiago Tizzot, fez o caminho inverso: começou há 15 anos como editora e investiu em uma livraria física. De acordo com Tizzot, a experiência como livreiro acabou melhorando o seu trabalho como editor.

— Uma vez entrou um cliente e pediu um livro do Juan José Arreola, procurei e não encontrei nenhum título disponível — conta o livreiro-editor. — Logo depois fui procurar sobre o autor e descobri que era um autor mexicano super importante e que influenciou muita gente na América Latina. No ano seguinte publiquei "Confabulário", uma das obras de Arreola.

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