RIO - A demanda crescente do agronegócio, mineração, construção civil e até dos serviços de entrega do comércio eletrônico impulsiona as vendas de caminhões no país.
Em entrevista ao GLOBO, Roberto Cortes, presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus, revela que os negócios aumentaram 55% nesse primeiro semestre e a tendência é de alta.
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No entanto, a montadora, que anunciou na terça-feira a fabricação de seu primeiro caminhão elétrico no Brasil , vê a falta de semicondutores como um dos desafios para atender a esse momento de retomada do consumo no país.
Um dos reflexos, disse, é a necessidade de horas extras para driblar a escassez de equipamentos eletrônicos. Confira os principais trechos da entrevista.
Ontem a Volks lançou seu primeiro caminhão elétrico. Mas como a empresa vai desenvolver um sistema para permitir o carregamento dos veículos pelo país?
Estamos desenvolvendo várias soluções técnicas. A Ambev, que fez acordo para comprar 1.600 caminhões elétricos, desenvolveu um sistema que permite carregar os veículos à noite.
O motorista pode ainda comprar o carregador ou até abastecer os veículos nas nossas 150 concessionárias. Estamos fazendo parcerias para aumentar o carregamento.
Estamos conversando com todos as empresas de distribuição de combustíveis para permitir o carregamento em seus postos. Como são caminhões urbanos com uma circulação mais controlada, estamos conversando com todos.
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Qual é o investimento que a empresa está fazendo na fábrica de Resende para permitir a produção de caminhões elétricos?
Aumentamos a nossa produção geral em Resende em 55% neste ano. E contratamos 500 pessoas. Desse total, cerca de 10% são dedicados às operações de eletrificação na produção.
Para este ano, a produção deve aumentar na faixa dos 30%, dentro das previsões da Anfavea, que reúne os fabricantes, e da Fenabrave, que representa as concessionárias.
Em caminhões elétricos, estamos produzindo entre 50 e 100 unidades por mês nesse primeiro momento. Acredito que, a depender da demanda, vamos chegar a 200 unidades por mês já em meados de 2022.
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E por que a demanda está crescendo?
A demanda está maior que a gente imaginava. Há cinco motivos para isso. Entre 2017 e 2018, as vendas e produção caíram 75%. Entre 2019, houve recuperação. Mas em 2020 a pandemia derrubou a demanda. E agora vemos uma compensação.
Além disso, há um impulso das vendas de caminhões por conta do bom momento do agronegócio, da mineração e da construção civil. E por último o avanço do consumo impulsiona a demanda por delivery, aumentando a busca por caminhões urbanos e pequenos. O crescimento ocorre em todos os segmentos.
Mas há desafios nesse crescimento?
Temos capacidade de produção, mas há falta de peças. A recuperação das economias está muito rápida. No início da pandemia tivemos problema com aço, pneu e plástico, mas as empresas aumentaram sua capacidade de produção e isso foi normalizado.
Agora, veio o problema dos semicondutores. Temos que produzir o caminhão e depois completar com a instalação dos semicondutores, que são chips eletrônicos.
Mas esse problema tem afetado a empresa de que forma?
Exige hora extra para recuperar a produção. Mas é algo que estamos conseguindo gerenciar, pois não consumimos esses chips na mesma proporção que os fabricantes de carros. Hoje, estamos produzindo a pleno vapor em dois turnos.
A empresa está preocupada com o aumento dos preços da energia elétrica?
A energia é um problema pontual desse segundo semestre. A nossa dependência (do país) das hidrelétricas vem reduzindo, mas ainda é muito relevante. Acredito que já, já essa questão será resolvida. Estamos vendo as energias eólica e solar crescendo cada vez mais.
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Como o senhor vê as discussões em torno da reforma tributária, como a redução do Imposto de Renda para empresas?
Para incentivar os investimentos, tem que desonerar as empresas. A carga tributária é muito elevada no Brasil.
O senhor acredita que o Mercosul está enfraquecido em meio às diferenças entre Brasil e Argentina?
Sou a favor da abertura comercial e de acordos comerciais com Europa, México. Quanto mais se abre, mais se fomenta a concorrência, mas, claro, que isso tem que ser responsável. As exportações representam 20% de nossa produção. O mercado mais importante é a Argentina, por isso o Mercosul é importante.