A prisão do miliciano conhecido como “inimigo número um do estado” é um avanço significativo, mas não resolve as questões da segurança pública do Rio de Janeiro, afirma o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli. Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, chefe da maior milícia do RJ, foi preso neste domingo, véspera de Natal, após tratativas entre sua defesa e as autoridades.
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— A prisão do Zinho é muito importante, claro. Mas a situação da segurança pública não se resolve com a prisão de um ou de outro. Ela é enfrentada a partir de ações estruturantes. Então, por exemplo, a gente está no Rio de Janeiro agora e tudo isso tem conexão com o que está acontecendo — explica Cappelli em entrevista ao GLOBO.
Para ele, as ações conjuntas estabelecidas entre os governos federal e estadual a partir do envio das Forças Nacionais ao Rio — em outubro deste ano — têm contribuído para o resultado de asfixia das organizações criminosas.
— A asfixia continua, porque não é aceitável você ter organizações criminosas dominando territórios. Então, a prisão do Zinho não arrefece, pelo contrário, ela só demonstra que estamos no caminho certo. Estamos em conjunto com as Forças Armadas, atuando nos portos e nos aeroportos, fechando o cerco aos canais por onde circulam armas e drogas. A gente está com homens da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal, são mais de 550 homens. Também praticamente dobramos a capacidade investigativa da Polícia Federal no estado. Então, tudo isso é um somatório.
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Ataque ao braço político e 'conexões poderosas'
Zinho foi preso seis dias após uma operação que teve como alvo a deputada estadual Lucinha (PSD), após investigações apontarem ligações entre os dois. Após a ação, deflagrada pela PF, a defesa do miliciano iniciou tratativas para entregá-lo às autoridades. Durante os cumprimentos de mandados de busca e apreensão em endereços ligados à parlamentar, foram apreendidos documentos e telefones.
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Para Cappelli, os fatos não são isolados e deixam clara a existência de “conexões evidentes” e de “aproximações sucessivas”.
— Uma milícia como essa não se estabelece no Rio de Janeiro, dominando quase um terço do território da cidade, sem conexões poderosas. Então, o Zinho tem muito a dizer. E a gente espera que ele fale. Fica claro (com as operações recentes) que é um processo com conexões evidentes, de aproximações sucessivas — avalia Cappeli, que completa:
— A Polícia Federal foi se aproximando, se aproximando, e fica claro que Zinho optou por não correr o risco de ter o mesmo destino de seu sobrinho e também de seu próprio irmão, o Ecko. Quando um cidadão como esse, um miliciano como esse, sabe que se tem muita informação sobre ele, percebe que a vida dele começa a correr risco. Até pelo receio de ser assassinado pelos próprios comparsas.
As milícias no Rio:
- As milícias são grupos paramilitares, que disputam com os traficantes espaço na subjugação de comunidades carentes e bairros na capital e em outros municípios fluminenses. Em 2005, reportagem do GLOBO revelou que essas quadrilhas formadas por policiais e ex-policiais tinham assumido o controle de 42 favelas na Zona Oeste do Rio.
- Após uma década de expansão e fortalecimento, os grupos milicianos dominam e exploram regiões que se espalham por dezenas de bairros do Rio e no entorno da capital, brigam por novos territórios com um arsenal militar. Corrompem, matam e se infiltram nas instituições. Quase sempre sem punição.
- Em meio a uma crise interna, a maior milícia do Rio deu, no dia 23 de outubro de 2023, uma demonstração de força e parou a capital do estado em represália à morte de um dos integrantes de sua cúpula. Após Matheus da Silva Rezende, o Faustão, apontado como número 2 da hierarquia da milícia chefiada por seu tio, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, ser morto a tiros pela polícia, seus comparsas incendiaram 35 ônibus e um trem e impactaram o transporte público em uma dezena de bairros da Zona Oeste.
- O miliciano Zinho, chefe da maior milícia do Rio, foi preso na véspera do Natal de 2023 após se entregar na delegacia localizada na Superintendência da Polícia Federal no Rio. Segundo a PF, a prisão ocorreu após "tratativas entre os patronos" de Zinho, a corporação e a recém recriada Secretaria de Segurança Pública. O criminoso, que estava foragido, segue preso após passar por audência de custódia.
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