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Por Filipe Barini, agências internacionais

A presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, chegou nesta terça-feira a Taiwan, na primeira visita de um integrante do alto escalão americano à ilha desde 1997, acirrando a tensão já elevada nas relações entre Pequim e Washington. Apesar das promessas da Casa Branca de que tudo transcorrerá "em segurança", a China, que considera a ilha autogovernada parte do seu território, disse que a visita representa uma violação de sua soberania e iniciou manobras militares na região, incluindo nos arredores de Taiwan.

O Boeing C-40C da Força Aérea dos EUA que levava Pelosi pousou por volta das 22h40 (11h40 em Brasília) no aeroporto de Songshan, nos arredores de Taipé, vindo de Kuala Lumpur, na Malásia. A rota usada foi pouco usual: a aeronave contornou as Filipinas e não passou pelo Mar do Sul da China, onde Pequim tem disputas territoriais com os vizinhos e mantém presença militar ostensiva. Antes da chegada, uma mensagem de boas-vindas foi projetada no arranha-céu Taipei 101, de 438 metros de altura.

Presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, chega a Taiwan mesmo após alerta chinês

Presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, chega a Taiwan mesmo após alerta chinês

Pelosi foi recebida no aeroporto pelo chanceler Joseph Wu e, em comunicado, afirmou que a visita "honra o compromisso inabalável dos EUA com o apoio à vibrante democracia taiwanesa". "A solidariedade dos EUA com os 23 milhões de habitantes de Taiwan é mais importante do que nunca, no momento em que o mundo enfrenta uma escolha entre a autocracia e a democracia", escreveu a presidente da Câmara, que é a segunda na linha de sucessão do presidente dos EUA.

A deputada disse que a viagem "de forma alguma contradiz a longeva política dos EUA" para Taiwan, estabelecida nos anos 1970 e que é marcada por um robusto apoio militar, mas sem o estabelecimento formal de relações diplomáticas. Conhecida crítica da China e considerada "persona non grata" no país, ela não confirmou a viagem até deixar a Malásia. A ida a Taiwan não aparecia no roteiro divulgado à imprensa, que incluía também escalas em Cingapura, Coreia do Sul e Japão.

Antes da chegada de Pelosi a Taiwan, a China anunciou uma série de exercícios de artilharia no Mar de Bohai, próximo ao Mar Amarelo. As manobras começaram na segunda-feira e devem seguir até a quinta. O comando militar chinês também anunciou manobras no Mar do Sul da China e no próprio Estreito de Taiwan, e algumas áreas foram fechadas à navegação pelo menos até sábado.

Mapa de operações navais da China e dos EUA — Foto: Editoria de Arte
Mapa de operações navais da China e dos EUA — Foto: Editoria de Arte

Nesta terça, caças chineses voaram perto da linha que marca a metade da extensão do Estreito de Taiwan, que separa a ilha do continente, e o comando Sul do Exército de Libertação Popular, as Forças Armadas chinesas, está em estado de alerta elevado. Voos chineses de passageiros em regiões próximas a Taiwan tiveram seus itinerários modificados. De acordo com o Ministério de Defesa Nacional taiwanês, 21 aeronaves chinesas entraram na chamada Zona de Identificação de Defesa Aérea apenas nesta terça-feira.

De acordo com o jornal South China Morning Post, de Hong Kong, dois porta-aviões chineses, Liaoning e Shandong, deixaram os portos onde estão baseados, e há movimento de tropas e blindados em Xiamen, cidade localizada a menos de seis quilômetros de uma ilha controlada por Taiwan.

Houve também medidas comerciais, supostamente em retaliação à visita: empresas taiwanesas de alimentos afirmam que alguns de seus produtos estão sendo barrados nos portos chineses, e Pequim não explicou o motivo. Mais de 100 itens estariam banidos, incluindo biscoitos e doces.

Analistas, contudo, veem na movimentação mais uma demonstração de força dos chineses dirigida a Taipé do que uma intenção real de militarizar a viagem de Pelosi, o que foi indicado no comunicado divulgado por Pequim logo depois da chegada da deputada à ilha, que termina com um apelo à diplomacia entre EUA e China, mas reafirma que Taiwan é uma questão interna chinesa.

Em outro comunicado, o porta-voz do Ministério da Defesa chinês, Wu Qian, falou em "ações militares direcionadas" a impedir o "separatismo" em Taiwan. O comunicado acusa Pelosi de "fazer uma provocação maliciosa para criar uma crise" e afirma que o convite das autoridades taiwanesas à deputada americana foi uma "ação muito perigosa e inevitavelmente levará a sérias consequências".

"O Exército de Libertação Popular está em alerta máximo e lançará uma série de ações militares direcionadas para combater isso, defender a soberania nacional e a integridade territorial e impedir a interferência externa e as tentativas separatistas de 'independência de Taiwan'", diz a nota.

Em paralelo, o jornal estatal Global Times disse em um editorial que a resposta chinesa não virá de uma vez só, mas será uma "combinação de ações de longo prazo, enérgicas e que avançam consistentemente".

Taiwan também pôs hoje suas forças em alerta máximo: a imprensa local afirma que as tropas se encontram em estado de prontidão e devem reduzir o tempo necessário para agir no caso de algum tipo de agressão chinesa. Caças Mirage 2000 estariam prontos para decolar em bases no Leste da ilha, segundo o jornal Liberty News, ligado ao partido governista.

As forças dos EUA também elevaram o alerta. Há três navios americanos de grande porte nos arredores de Taiwan: o USS Ronald Reagan, um porta-aviões localizado no Mar das Filipinas; o USS Tripoli, um navio anfíbio que transporta caças F-35 Lightning II a bordo; e o USS America, que está na base naval japonesa de Sasebo. Ao menos três Boeing P-8 Poseidon da Força Aérea dos EUA, responsáveis pelo monitoramento de atividades navais, foram identificados perto de Taiwan nas últimas 48 horas.

A China vem advertindo há semanas contra a viagem, cujos planos foram vazados em meados de julho pelo Financial Times. O próprio presidente Xi Jinping disse na semana passada, em conversa com o americano Joe Biden, que os EUA não deveriam "brincar com fogo". Hoje, mais cedo, uma porta-voz da Chancelaria em Pequim, Hua Chunying, disse que os EUA “pagariam o preço” se Pelosi fosse a Taiwan.

— Os Estados Unidos carregarão a responsabilidade e pagarão o preço por minar a soberania e a segurança da China — disse Hua.

O roteiro da parlamentar democrata, que foi recebida em seu hotel por manifestantes contrários e favoráveis, é mantido sob sigilo. Fontes do governo de Taiwan afirmaram, contudo, que ela deve visitar o Legislativo local na manhã de quarta e, em seguida, se encontrar com se encontrar com a presidente Tsai Ing-wen.

Pelosi deve almoçar com na Casa de Hospedagem de Taipé, uma mansão da era colonial japonesa habitualmente usada para recepções diplomáticas, e visitar o Museu Nacional de Direitos Humanos.

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