Teatro
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Por — Rio de Janeiro

Há perguntas que se recusam a ter uma aterrissagem fácil. Para que serve a arte? Como propor gestos no presente que reverberem no futuro? “Voo livre”, novo espetáculo da premiada Companhia Brasileira de Teatro — em cartaz até a próxima semana no Teatro de Arena do Sesc Copacabana, na Zona Sul do Rio —, se interessa justamente por manter estas e outras tantas questões em suspenso.

A montagem dirigida por Marcio Abreu é composta, a rigor, por três diferentes peças, apresentadas separadamente, em dias diferentes. Todas têm como base o texto “A gaivota”, de Anton Tchekhov, que serve de impulso para uma “aventura performática” — como o próprio dramaturgo e encenador define —, debruçada sobre três palavras de sentido abrangente: “Arte”, “Tempo”, “Futuros”. Em cada uma das obras, juntam-se grupos de profissionais distintos ao elenco formado por Renata Sorrah, Cássia Damasceno, Danilo Grangheia e Felipe Storino. Parece complexo. Mas não é.

Cena de "Arte", peça do projeto cênico "Voo livre", da Cia Brasileira de Teatro — Foto: Nana Moraes/Divulgação
Cena de "Arte", peça do projeto cênico "Voo livre", da Cia Brasileira de Teatro — Foto: Nana Moraes/Divulgação

Na última semana, a trupe encenou “Tempo”, com participação da escritora Leda Maria Martins. Até o próximo domingo (8), é a vez de “Futuros”, com os neurocientistas Sidarta Ribeiro e Luiza Mugnol-Ugarte (ambos apenas neste sábado, 7), além dos atores Yumo Apurinã, Jessyca Meyreles e Rafael Bacelar, da dançarina e coreógrafa Cristina Moura e da poeta e rapper Bianca Manicongo, também conhecida como Bixarte. Na próxima semana, desenrola-se “Arte”, com os atores Bárbara Arakaki e Flow Kountouriotis. E depois, bem, certamente haverá algo a mais...

— O que propomos é um campo de experimentações — ressalta Marcio. — Estamos nesse movimento de ganhar fôlego, enxergar horizontes, ver mais longe, ter uma relação com o tempo menos pressionada por fatores externos, escutar o outro, encontrar o público, arriscar, não acertar... Assim levamos para as pessoas espetáculos com propósitos mais abertos, menos pressionados por uma lógica precarizante e produtivista. Depois de tudo o que vivemos nos últimos quatro anos, acho impossível retomar uma prática profissional e cotidiana do teatro como antes. Não faz sentido! Façamos então novas perguntas junto ao público, por que não?

Fora da caixa

Marcio se dedica profissionalmente ao teatro há mais de três décadas. Carioca que viveu a adolescência em Curitiba, no Paraná — onde fundou, em 2000, a Companhia Brasileira de Teatro —, o homem de 51 anos, filho de uma professora aposentada e de um ex-empresário financeiro, consolida-se como um dos principais expoentes da cena contemporânea teatral.

A linguagem irreverente que ele vem desenvolvendo como autor e diretor — em trabalhos como “Sem palavras”, que lhe rendeu o Prêmio Shell deste ano na categoria Melhor Dramaturgia; “O espectador”, com Marieta Severo, Andréa Beltrão, Renata Sorrah e Ana Baird, em parceria com Enrique Díaz; e “Nós” e “Outros”, ambos com o Grupo Galpão — está ancorada num terreno movediço.

Andréa Beltrão, Ana Baird, Marieta Severo e Renata Sorrah em 'O espectador' — Foto: Divulgação/Nana Moraes
Andréa Beltrão, Ana Baird, Marieta Severo e Renata Sorrah em 'O espectador' — Foto: Divulgação/Nana Moraes

Na juventude, Abreu passou pelo menos quatro anos peregrinando por países entre o México e o Uruguai como aluno da Escola Internacional de Teatro da América Latina e do Caribe, a Eitalc, centro de formação artística itinerante que teve como representante brasileiro o diretor Fernando Peixoto, um dos fundadores do Teatro Oficina, ao lado de Zé Celso.

As experiências com figuras de diferentes origens — como um grupo de artistas camponeses na Nicarágua, um dos lugares onde viveu nesse período — reverberam até hoje nas montagens que leva aos palcos. E dão propulsão constante para aquilo que o diretor cita, volta e meia, como “pensamento expandido”, algo que se conecta com as perguntas suscitadas em “Voo livre”: afinal, o que é e o que pode o teatro? As respostas são obras aparentemente pouco interessadas em totalizar histórias, objetos, formas, e que exigem do público chaves de leitura inusuais.

— Há um elemento na vida da gente, e que tem a ver com este tempo, que é múltiplo, simultâneo, dinâmico. E que não dominamos por inteiro — discorre.

Criação coletiva: Companhia Brasileira de Teatro conta com colaborações diferentes a cada novo espetáculo; Renata Sorrah (à frente do computador) é parceira permanente há 11 anos — Foto: Nana Moraes/Divulgação
Criação coletiva: Companhia Brasileira de Teatro conta com colaborações diferentes a cada novo espetáculo; Renata Sorrah (à frente do computador) é parceira permanente há 11 anos — Foto: Nana Moraes/Divulgação

O dramaturgo considera que, de algum modo, a narrativa linear recorrente na arte é uma “herança de um tipo de cultura que a gente foi levado a integrar e a reproduzir sem muita escolha”. Ele vai além:

— Isso tem a ver com colonização. Não acho, porém, que produzir algo mais fragmentado significa ser “decolonial”. Entendo que fragmentos e linhas estão presentes em todas as experiências de composição de linguagem. Mas há elementos para pensar aí. Existem outras matrizes culturais no Brasil, com diferentes prerrogativas. A polifonia que levo para alguns trabalhos tem a ver com a criação de gestos que permitam pensar, dentro de uma obra, a possibilidade de descolonizar a língua, o pensamento.

Incursão no cinema

No próximo ano, o diretor pretende rodar seu primeiro longa-metragem, que dialogará com uma peça inédita acerca de dois períodos específicos na história do país: os momentos que precederam a ditadura militar, em 1964, e a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018.

O diretor e dramaturgo Marcio Abreu — Foto: Léo Martins/Agência O Globo
O diretor e dramaturgo Marcio Abreu — Foto: Léo Martins/Agência O Globo

Antes disso, Abreu estreará outro espetáculo, em julho, em São Paulo. Renata Sorrah é a única certeza, até agora, no elenco. Desde 2012, quando participou da peça “Esta criança”, a atriz se tornou um nome praticamente permanente dentro da Companhia Brasileira de Teatro, grupo mantido por Marcio, José Maria, Cássia Damasceno, Nadja Naira e uma turma de parceiros que vão e voltam. E sempre se renovam.

— A longevidade da companhia tem a ver com essa permeabilidade de criar e desdobrar parcerias de muitas formas — destaca Marcio. — Com Renata Sorrah, são muitas convivências. Ela integrou o grupo com um sentimento muito vigoroso e amoroso de contribuições inestimáveis. E, sim, já faz total parte da companhia.

Serviço

Onde: Sesc Copacabana (Teatro de Arena). Rua Domingos Ferreira 160, Copacabana — 2547-0156. Quando: “Futuros”: sáb (7) e dom (8). às 20h. Na próxima semana (“Arte”): qui (12) e sáb (14), às 20h; e sex (13), às 17h e às 20h. Quanto: R$ 30. Classificação: 16 anos.

Mais recente Próxima Espetáculo leva para o teatro textos da colunista Dorrit Harazim publicados no GLOBO
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